EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020) - “LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES” , Rampa (Pátio do Bolhão, 125, Porto), 21 abril - 11 junho 2022. Curadoria Paula Parente Pinto
Convite em papel, Lembrar o Futuro
Criador
Categoria
Data
Abstract
SINOPSE:
O programa “LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCE” visa a recuperação, documentação e activação do espólio do crítico de arte Egídio Álvaro (Coimbra, 1937 - Montrouge, 2020). Amplamente dedicado à história nacional e internacional da performance-arte dos anos 70 e 80, este espólio será activado no espaço RAMPA (Porto) entre os dias 21 de Abril e 11 de Junho de 2022, através da exposição física de alguns dos seus materiais visuais e documentais, sessões de visualização de fotografias e vídeos em formato digital, escuta de registos sonoros, apresentação de performances originais ao vivo e recriações de performances documentadas no espólio, exposição de obras de artistas plásticos realizadas propositadamente para este programa e uma oficina gráfica de cartazes. O programa inclui ainda conversas informais com artistas e outros agentes sobre a actividade profissional deste crítico de arte e promotor cultural, bem como com interessados nas temáticas surgidas em torno da construção de um arquivo de performance-arte e problemáticas adjacentes.
É fundamental que estes materiais sejam cultural, visual, e materialmente tratados, e que conteúdos históricos e teóricos sejam produzidos sobre o trabalho do crítico de arte Egídio Álvaro, mas igualmente sobre os artistas que com ele colaboraram, reconhecendo ligações, colaborações e influências. Reconhecer, celebrar e activar o espólio documental de Egídio Álvaro, abrindo-o a uma comunidade de artistas, historiadores e outros interessados na história da performance arte, será um sinal importante para o trabalho que qualquer instituição venha a fazer no futuro com o mesmo e confere-nos uma oportunidade para pensar na presente condição das artes em Portugal.
Este programa representa uma oportunidade para lembrar a performance enquanto expressão artística e inscrever a sua história na cultura portuguesa, mas sobretudo debater e renovar a abordagem cultural sobre materiais documentais e visuais que, com o passar do tempo, necessitam de ser activados por novas gerações, encontrar novos espaços e meios de exposição. Ainda estamos na fase das perguntas, em que as respostas são certamente desconhecidas....
MOMENTO 1: PERSPECTIVA 74
Inauguramos o programa LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES, dedicado ao trabalho do crítico de arte Egídio Álvaro (1937-2002), com a exposição de uma série de materiais do ciclo internacional PERSPECTIVA 74.
Em Outubro de 1973 (mês do lançamento da Revista de Artes Plásticas Nº1), Egídio Álvaro convidou em nome da Galeria DOIS, uma série de artistas a participarem numa exposição consagrada a alguns aspectos da “arte contemporânea”; ainda antes do conceito mais genérico de performance resumir um campo experimental que se apropria de elementos associadas a diversas artes, surgem nesta época expressões como: intervenções, arte conceptual, arte processo, arte ideia, arte transversal, arte lúdica, dialéctica da duração, arte da troca, arte corporal, crítica do suporte, arte de comportamento, espaços vivos, ambiente, instalação, escultura-viva, situação, etc..., que procuram inscrever novos e experimentais registos artísticos. Depois de reunir preliminarmente com Da Rocha (ou Paris Couto), Hubert, Moucha, Pineau, Schwind, Tomek e Yokoyama, dirige o convite a Alvess, Ben, Brecht, Borgeaud, Dixo, Filliou, Gerz, Klassnick e Oldenbourg. As exposições durariam 1 semana/cada, com direito a um desdobrável com formato A3 (dobrado ao meio), um catálogo geral a ser organizado durante uma retrospectiva na última semana do ciclo e a edição de um álbum serigráfico com uma edição de 100 exemplares de cada artista. A viagem e a estadia dos artistas eram asseguradas pela Galeria Dois, tendo como seu centro de acolhimento a Casa de Valadares, de Jaime Isidoro.
O ciclo, organizado por Egídio Álvaro para as galerias do Grupo Alvarez, estendeu-se às ruas, mercados, praias, cafés e praças públicas do Porto. Inaugurou a 16 de Fevereiro de 1974, antes da Revolução de Abril, mas celebrava já uma mudança nos comportamentos artísticos, destabilizando o estatuto dos objectos artísticos comercializados pelas galerias e expondo um público não especializado a novos modos de produção artística. Com a duração de 11 semanas (16 Fevereiro – 1 Maio 1974), o Ciclo Internacional Perspectiva 74 reuniu treze artistas de seis países – Polónia, Japão, Portugal, Inglaterra, França e Checoslováquia: Tomek Kawiak, Yokoyama, Alberto Carneiro, Roland Miller e Shirley Cameron, Jacques Pineau, Da Rocha, Pierre-Alain Hubert, Miloslav Moucha, Manuel Alvess, João Dixo, Robin Klassnick e Serge III Oldenbourg. Ampliando o terreno de recepção pública da arte à escala da cidade, este ciclo foi fundamental para o desenvolvimento da arte da performance portuguesa.
MOMENTO 2: DIAGONALE
Depois de conhecer o novo director da Secretaria Portuguesa do Turismo em Paris, em 1977, Egídio Álvaro organizou várias exposições nessa pequena galeria na rue Scribe, que tinha por ambição transformar-se num centro de arte portuguesa. Esse espaço
toma de imediato o nome DIAGONALE e Egídio Álvaro acaba por assumir a sua programação como uma primeira fase da direcção da sua galeria. A partir de Abril de 1977 apresenta: uma colectiva –“Le Fil Conducteur” (19 abril – 5 maio), com Henrique Silva, Natividade Correa, Vítor Fortes, Graça Morais e Jaime Silva e três exposições individuais – Carlos Carreiro (10-30 maio), João Dixo (31 maio-20 junho) e Sérgio Pombo (30 junho-16 julho). O Adido Cultural Português acaba por alegar o fecho da galeria da Secretaria Portuguesa do Turismo para a realização de obras (aparentemente não voltando a abrir), mas em 1978 Albuquerque Mendes (9-31 maio) ainda inaugurou uma exposição individual na Galerie Diagonale/ Rue du Scribe.
Já em 1979, o Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian (Av. de Iéna) inicia um ciclo dedicado aos seus bolseiros e Egídio Álvaro propõe algumas exposições e escreve alguns textos. São exemplo os textos para o catálogo de Gonçalo Duarte (Maio 1979) e de João Dixo (Abril 1979). A Fundação Calouste Gulbenkian decide igualmente terminar este ciclo de bolseiros e a exposição de Miguel Yeco, que estava programada há
7 meses, é cancelada, depois da administração da Gulbenkian ter decidido que não queriam performances no seu centro cultural.
Graças a um amigo, Egídio Álvaro tinha encontrado um espa-
ço com um pequeno jardim num pátio em Montparnasse. As acti-
vidades da Galeria Diagonale, 10 Boulevard Edgar Quinet (75014
Paris), que abriu imediatamente no dia 25 de Abril de 1979, ini-
ciam com a exposição e performance que Miguel Yeco tinha
visto cancelada na Gulbenkian. Na capa do catálogo, o nome da
Fundação Calouste Gulbenkian aparece cancelado com uma
cruz, mas a marca foi transposta da capa do dossier enviado por
Miguel Yeco para a Gulbenkian.
Muitos artistas portugueses acabam por expor na Galerie Diagonale até aos anos 90: Da Rocha, Armando Azevedo, Manoel Barbosa, Albuquerque Mendes, Elisabete Mileu, Gerardo Burmester, Miguel Yeco, António Barros, Natividade Correa, Carlos Gordilho, Luís Garcia, António Olaio, entre muitos outros.
Mas Egídio Álvaro identificava a Galerie Diagonale como um “lugar de encontros internacionais”, expandindo a sua programação dentro e fora da galeria, por festivais organizados por si ou em parceria com outras instituições culturais. Vocacionada para a
performance, apresentou instalações, exposições, arte postal, dança, música, fotografia, vídeo e foi palco de muitos debates.
Como o nome indica, a galeria DIAGONALE assumiu-se como lugar de investigação, de encontros e trocas, encruzilhada de linguagens disruptivas, superfície de revelação de clivagens, sem fronteiras, pela criação total e circulação sem entraves.
MOMENTO 3: CORPO MANIFESTAÇÃO (11 maio – 21 maio 2022)
ARTISTAS PERFORMERS NO ARQUIVO DE EGÍDIO ÁLVARO
DESTAQUE: ELISABETE MILEU
A desmaterialização da obra de arte, que conduziu à efemeridade dos eventos culturais, produziu novos encontros e novas colisões entre artistas e audiência, num novo terreno comum e partilhado de recepção pública. Era este contexto, entre a sublevação e a revolta francesa de maio de 1968 e a revolução portuguesa de 1974 – no qual circulava o promotor cultural Egídio Álvaro – que direccionou os artistas para a rua e para o contacto directo com públicos muito mais vastos que as audiências de museus e galerias. Apesar dos grandes desfasamentos sócio-culturais das populações, que reflectiam um alheamento imposto pelo regime autoritário, estes novos lugares de partilha evidenciavam a extrema disponibilidade para o estabelecimento de intensas ligações afectivas entre diferentes grupos. Celebrava-se um futuro desconhecido, não sem que a abertura instituída pelo libertador slogan “proibido proibir” deixasse de gerar confrontos sócio-culturais, parte dos quais provocados por aproveitamentos políticos, e outros enraizados em moralismos de fundamento religioso. Mas a vontade de um futuro mais partilhado era manifesta nas lutas transversais pelos direitos e pela liberdade. E estas conquistas políticas foram essenciais para defender as transformações e direitos à independência e à vida privada. A grande manifestação desta liberdade, que expandiu a experiência e tornou a expressão da subjectividade mais plural, foi a revolução corporal. Indissociável da vida, a arte passou a incorporar a reivindicação da igualdade de género e activou de forma manifestamente libertadora o corpo feminino na performance.
Egídio Álvaro acompanhou o interesse pela performance de uma série de artistas femininas, em que o corpo se manifesta imediatamente como expressão da existência. A forma como o seu espólio documental destaca a presença feminina na performance evidencia a necessidade de dedicar um dos momentos de exposição e activação deste ciclo ao tema “Corpo Manifestação”. A fotografia, o cinema, a televisão e os novos meios permitiram aos artistas explorar o tempo e o espaço contemporâneos sem a distância ou o isolamento cultural impostos por qualquer “obra de arte original e consagrada” transposta para os ambientes controlados dos museus. Abriram também espaço para uma análise temática e materialmente transversal das funções da arte. E apesar da efemeridade da performance-arte, foram estes novos meios de comunicação os que melhor se adequaram às transformações vividas em tempo real. Fotojornalistas e o público em geral registaram e presenciaram situações inéditas e para as quais ainda não possuíam chaves de leitura. Essas fotografias, embora dispersas e maioritariamente desaparecidas, ampliam a memória de momentos que aparentemente não afectaram o público, mas em sentido quase oposto, o movimento do vídeo capta sem piedade a inaptidão social para aceitar a liberdade, aparentemente reivindicada por e para todos.
Os textos que Egídio Álvaro foi publicando ao longo da sua vida, e os registos visuais e sonoros – provas de contacto, slides, negativos, ampliações em papel, imagens impressas em publicações, entrevistas áudio e vídeos –, muitos dos quais desconhecidos dos performers em questão e da História da Arte, evidenciam o percurso performático de mulheres como Shirley Cameron, Barbara Heinisch, Laurence Hardy, Gaël, Elisabeth Morcellet, Manuela Fortuna, Elisabete Mileu, Ilse Wegman-Hacker, Monique Hebré, Natascha Fiala, Suzanne Krist, Catherine Meziat, Chantal Guyot, Natasha Fiala, Marie Kawazu, Marcelle Van Bemmel, Tara Babel, Lydia Schouten ou Ção Pestana. E abrem diante de nós um longo percurso de trabalho de investigação e pensamento a realizar sobre o trabalho destas artistas performers, a que esta programação apenas deu início.
Esta evidência levou-me a destacar o percurso da performer Elisabete Mileu, convidando a bailarina Vânia Rovisco a recriar a performance que Mileu apresentou no I Festival de Arte Viva (Alternativa 1, Almada, 1981). A importância de inscrever na história e a urgência de construir um novo olhar e pensamento sobre os materiais depositados no espólio de Egídio Álvaro e na obra das artistas performers, particularmente na de Elisabete Mileu, levou-me a pedir a colaboração de Rita Barreira e de Cláudia Madeira. Não pode ter sido só uma coincidência que Isabel Carvalho, convidada para produzir uma obra original a partir deste espólio, tenha produzido a obral, o nú e a audiência (2022), depois de investigar e revisitar o arquivo deste crítico de arte e a obra de Elisabete Mileu.
MOMENTO 4: FESTIVAL INTERNACIONAL DE PERFORMANCE. ALTERNATIVA 5:
O ÂNGULO RECTO FERVE A 90º (Porto, 1987)
“Lembrar o Futuro: Arquivo de Performances” foi um processo de recuperação, documentação e activação sobre o trabalho que o crítico de arte Egídio Álvaro dedicou à história da performance-arte. Assumido como um espaço de trabalho em contínua transformação, destacou diferentes artistas e diferentes materiais visuais e culturais, concluindo-se com uma mostra dedicada ao V Festival de Arte Viva (Porto, 1987): O ÂNGULO RECTO FERVE A 90º.
A activação do espólio de Egídio Álvaro que – sem deixar de invocar outros arquivos e construir novas memórias – fomos celebrando ao longo das últimas semanas, permitiu lembrar o muito trabalho que ainda há por inscrever na História de Arte em Portugal. É agora mais claro como o contexto da revolução de Abril de 1974 foi fundamental para a performance-arte portuguesa e há mais evidência, tanto das inúmeras histórias do trabalho de artistas internacionais em Portugal, como de um denso contexto da arte portuguesa no estrangeiro, nomeadamente em França. Egídio Álvaro aparece mais claramente como um constante promotor deste intercâmbio cultural.
Sem esquecer o festival Performance Portugaise, organizado no Centre Georges Pompidou em Paris (1984), e que representou um reconhecimento institucional da programação cultural de Egídio Álvaro, o presente trabalho utiliza o V Festival de Arte Viva que se realizou em 1987 no Porto, como limite do arco temporal de uma programação fundamental (na sua heterodoxia), para a história da performance-arte em Portugal, que começou com o ciclo internacional Perspectiva 74, passou pelos Encontros Internacionais de Arte Portugal – Valadares (1974), Viana do Castelo (1975), Póvoa de Varzim (1976) e Caldas da Rainha (1977) –, pela contínua programação da Galerie Diagonale (Paris) desde 1979 – dentro e fora de portas –, pelos Festivais de Arte Viva em Almada (1981, 1982, 1983) e Cascais (1985), para culminar no Porto (1987).
Os Festivais de Arte Viva (iniciados em Almada em 1981) anunciaram-se como lugares de encontro, troca, e livre circulação, apresentando performances, poesia visual, vídeo-arte, dança experimental, exposições, arte postal, instalações, novos espaços sonoros e fóruns de debate (uma continuação dos Encontros Internacionais de Arte em Portugal e simultaneamente um contraponto dos Festivais Internacionais de Performance-Arte com que Egídio Álvaro colaborou internacionais). Potenciar o encontro e a livre troca e circulação entre artistas de todo o mundo foi sempre um marco de singularidade do trabalho de Egídio Álvaro, que assumiu o contexto da revolução de Abril como uma oportunidade fundamental para a transferência do espaço de acção dos artistas para a rua e para o encontro directo com a população, quebrando muitas fronteiras entre arte e vida, arte e população, arte nacional e internacional, passado e futuro.
Sem apoio institucional e assumindo a programação da Galerie Diagonale como independente, Egídio Álvaro foi dos poucos críticos de arte a escrever sobre a liberdade desta confluência de experiências sonoras, visuais, corporais, poéticas e teatrais – celebrando a coexistência de experiências entre artistas com diferentes objectivos –, num espaço e tempo de relação e intervenção imediata com um público não especializado. A sua programação fomentou novos confrontos, necessários à activação de conhecimento, colocando o público como elemento central da transformação cultural. Os documentos áudio e vídeo destes eventos, ainda pouco acessíveis dada a sua invisibilidade material e o desinteresse institucional pela sua acessibilidade pública, tornam evidente a nova liberdade do confronto entre a arte e os públicos. Sem filtros e próximos do quotidiano experienciado, os media permitem pensar a arte no contexto sócio-cultural do seu tempo, e apresentam-se ainda hoje como espelho da responsabilidade individual e colectiva.
A história do diálogo em directo, activada por Egídio Álvaro através da performance-arte, entendida como confluência de distintos territórios e sensibilidades artísticas, é essencial para rever a Alternativa 5, ou quinto Festival de Arte Viva (Porto, 1987). Uma performance sobrevivente das rupturas que dissolveram as fronteiras convencionais entre as diferentes artes, que aconteceu entre equilíbrios frágeis – através de um manifesto desinteresse pelas vozes autoritárias e credenciadas –, nos terrenos que o abandono dos lugares de enunciação estabelecidos deixou vazios, anuncia-se como uma acção de liberdade em choque com as ordens estabelecidas.
Pensar e fazer crítica de arte como modo de produção de conhecimento e questionamento da cultura implica a ocupação de novos espaços e, simetricamente, a exposição do público. Para este último Festival de Arte Viva, foi solicitada a colaboração de vários espaços da cidade do Porto: o Instituto Francês, o bar Aniki-Bóbó, a discoteca Lux (Centro Comercial Dallas), a discoteca Indústria (Foz), uma sala no último piso do Centro Comercial Brasília e a Galeria Roma e Pavia. A organização ficou a cargo de Egídio Álvaro, Pedro Oliveira e António Olaio. Participaram pelo menos 4 dezenas de artistas. Ficaram as fotografias de Bernard François e vários vídeos cuja autoria ainda não está identificada.
A mudança política do 25 de abril de 1974 evidenciou a urgência do diálogo da arte contemporânea com uma população ainda profundamente rural e desinformada, e questionou a função social da arte, a sua capacidade de mudar o mundo, e as suas condições elementares de produção e sobrevivência. Depois de 1985, a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, alterou profundamente o contexto sócio-cultural, mas continuará a ser a forma como construirmos a memória do futuro que pode permitir a transformação do passado.
Texto: Paula Pinto
Outro Contribuinte
Design: Atelier d´Alves
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