Catherine Méziat, Performance "Le Rencontre", V Festival de Arte Viva: O ÂNGULO RECTO FERVE A 90º, Porto, 1987.
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Abstract
TEXTO: "Os Festivais de Arte Viva iniciados pelo crítico de arte Egídio Álvaro em Almada (em 1981), anunciaram-se como lugares de encontro, troca, e livre circulação, apresentando performances, poesia visual, vídeo-arte, dança experimental, exposições, arte postal, instalações, novos espaços sonoros e fóruns de debate (uma continuação dos Encontros Internacionais de Arte em Portugal e simultaneamente um contraponto dos Festivais Internacionais de Performance-Arte com que Egídio Álvaro colaborou internacionais). Potenciar o encontro e a livre troca e circulação entre artistas de todo o mundo foi sempre um marco de singularidade do trabalho de Egídio Álvaro, que assumiu o contexto da revolução de Abril como uma oportunidade fundamental para a transferência do espaço de acção dos artistas para a rua e para o encontro directo com a população, quebrando muitas fronteiras entre arte e vida, arte e população, arte nacional e internacional, passado e futuro.
Sem apoio institucional e assumindo a programação da Galerie Diagonale como independente, Egídio Álvaro foi dos poucos críticos de arte a escrever sobre a liberdade desta confluência de experiências sonoras, visuais, corporais, poéticas e teatrais – celebrando a coexistência de experiências entre artistas com diferentes objectivos –, num espaço e tempo de relação e intervenção imediata com um público não especializado. A sua programação fomentou novos confrontos, necessários à activação de conhecimento, colocando o público como elemento central da transformação cultural. Os documentos áudio e vídeo destes eventos, ainda pouco acessíveis dada a sua invisibilidade material e o desinteresse institucional pela sua acessibilidade pública, tornam evidente a nova liberdade do confronto entre a arte e os públicos. Sem filtros e próximos do quotidiano experienciado, os media permitem pensar a arte no contexto sócio-cultural do seu tempo, e apresentam-se ainda hoje como espelho da responsabilidade individual e colectiva.
A história do diálogo em directo, activada por Egídio Álvaro através da performance-arte, entendida como confluência de distintos territórios e sensibilidades artísticas, é essencial para rever a Alternativa 5, ou quinto Festival de Arte Viva (Porto, 1987). Uma performance sobrevivente das rupturas que dissolveram as fronteiras convencionais entre as diferentes artes, que aconteceu entre equilíbrios frágeis – através de um manifesto desinteresse pelas vozes autoritárias e credenciadas –, nos terrenos que o abandono dos lugares de enunciação estabelecidos deixou vazios, anuncia-se como uma acção de liberdade em choque com as ordens estabelecidas.
Pensar e fazer crítica de arte como modo de produção de conhecimento e questionamento da cultura implica a ocupação de novos espaços e, simetricamente, a exposição do público. Para este último Festival de Arte Viva, foi solicitada a colaboração de vários espaços da cidade do Porto: o Instituto Francês, o bar Aniki-Bóbó, a discoteca Lux (Centro Comercial Dallas), a discoteca Indústria (Foz), uma sala no último piso do Centro Comercial Brasília e a Galeria Roma e Pavia. A organização ficou a cargo de Egídio Álvaro, Pedro Oliveira e António Olaio. Participaram pelo menos 4 dezenas de artistas. Ficaram as fotografias de Bernard François e vários vídeos cuja autoria ainda não está identificada." Paula Pinto
Fonte
Acervo Egídio Álvaro em depósito no Performing the Archive (Porto).
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