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Ernesto de Sousa , “A Vanguarda está em Coimbra, a Vanguarda está em ti”, in Lorenti´s 20 de Janeiro 1974

"A propósito do 1.000.011˚ Aniversário da Arte, Ernesto de Sousa publicou ainda um texto-manifesto sobre o Círculo de Artes Plásticas, “A Vanguarda está em Coimbra, a Vanguarda está em ti”. Nesse texto salientava o facto de a vontade de liberdade e de mudança, relativamente à produção artística e aos seus resultados, parecerem finalmente surgir e fazerem-no de forma descentralizada: CAP ou C.A.P. ... eis as letras a fixar, se o leitor for um dia a Coimbra, e quiser falar «a pretexto de arte» com gente das «artes». Artes de acção, belas-artes, malas-artes de liberdade: de encontro consigo próprio. E com os outros. Aliás, «a individualidade é uma relação que se dirige a si própria» (ó! Kierkegaard meu amigo!); e os outros, como encontrá-los senão em si próprios? Mas este encontro tem muito pouco a ver com as (consagradas) Belas-Artes, a Pintura, a Escultura, o Desenho, a Música, o Cinema, e etc... A todos estes entretenimentos se aplica bem a palavra recente de Rossellini, em Lisboa proferida (e que devia ser emoldurada pelos tontos cinefilistas... mas não é, não o vai ser): «Acho de facto que o cinema hoje já não interessa!» Pois não. Nem a pintura, nem etc. O que interessa não é toda essa pasmaceira de técnicas e alienação, beleza labirinticamente pré-constituída e pré-estabelecida: esse caminho para todas as Academias (e para a economia do mercado, bem entendido). O que interessa é a tal descoberta, a qual só pode ser conseguida num exercício total do corpo e do espírito, das mãos e da cabeça. Esse exercício é a prática quotidiana do CAP. Sim o CAP, ali em Coimbra, à Rua Castro Matoso, mesmo em frente da Clépsidra. O leitor vá lá, beba um café na Clépsidra e pergunte. Pergunte, porque “eles” têm horas. Pergunte pelo Dixo, ou pela Túlia Saldanha. Ou pelo Alberto Carneiro, que nesse dia talvez tenha vindo do Porto. Ou pelo Armando Azevedo, se já acabou a “tropa”, ou pelo José Casimiro, Teresa Loff, outros, alguns outros. Às vezes eu também dou lá uma saltada. Pergunte, e não esteja à espera de nada bem definido. Não esteja à espera de ir ver uma exposição ou ouvir um concerto bem afinado –porque, enfim, tudo isso pode acontecer... ou talvez, simplesmente, você vá conversar um bocado, e à noite comer um petisco à casa da Túlia. (...) Bem, para seu sossego, devo dizer-lhe que o CAP é uma instituição respeitável, tem subsídios da Gulbenkian e tudo. E até vou dizer-lhe (em segredo) o que significam as letras CAP: Círculo de Artes Plásticas. “Artes Plásticas?” Deixe lá, é uma designação antiga e do sistema. Mas as palavras não mordem, o sistema sim mas podemos (devemos) defender-nos. É o que tentam fazer os “plásticos” do CAP. Entretanto, nesta história de defesa, mais uma coisa lhe sugiro, lembre-se de Napoleão: “Só a ofensiva conduz à vitória.” " Paula Pinto

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