Segundo Aniversário da Ogiva, Óbidos, 16 de Dezembro de 1972
A galeria Ogiva, dirigida pelo escultor José Aurélio, funcionou na Rua Direita de Óbidos, entre Novembro de 1970 e Janeiro de 1974. "A 16 de Dezembro de 1972, uma série de elementos do Círculo de Artes Plásticas participou no segundo aniversário da Galeria Ogiva, cujo anfitrião foi o escultor e galerista José Aurélio, em Óbidos. Houve convidados e prendas: um coração de Helena Almeida, um quadro de Cruzeiro Seixas, um aquário-ambiente de Ana Vieira, uma Samocrácia de Eduardo Nery, uma peça realizada colectivamento pelo grupo dos 4 Vintes, um bolo gigante, ramos de flores, frutos secos, entre muitas outras prendas. Os alunos do C.A.P. apresentaram-se em grupo, com um grande embrulho, de onde foram surgindo consecutivas prendas: uma aguarela encaixilhada, um ramo de flores, pedras pintadas e umas centenas de nozes, que foram atiradas em cascata da varanda do último andar da galeria. Foi dessa mesma varanda que o crítico de arte e “operador estético” Ernesto de Sousa (1921-1988) realizou uma intervenção-com-o-nome-de-Joseph-Beuys, uma conferência sobre Joseph Beuys e a Documenta 5 (Kassel), com projecção de slides. Como comprova o artigo que este crítico escreveu para o a Revista Lorenti’s (Abril de 1973), é nesta altura que toma contacto com o Círculo de Artes Plásticas, a quem propõe a organização do 1000011º Aniversário de Arte (17 Janeiro 1974) e com o qual irá colaborar por diversas vezes. Uma intervenção-com-o-nome-de-Joseph-Beuys que ia quase virando para o torto. Porque assim é que é quando se descobrem interlocutores válidos e não um público passivo e masoquista que até aplaude quando é faz-de-conta insultado. O Círculo de Belas-Artes (é este o nome?) de Coimbra estava presente e animou com essa efectiva presença um DIÁLOGO, mais importante do que muitas pedagogias ex-cátedra. Um diálogo promissor de futuro. Armando Azevedo lembra a alegria da viagem de autocarro até Óbidos, a concepção da performática prenda e a sua espontânea e improvisada resposta à “intervenção-agressão” de Ernesto de Sousa. Foi esta experiência colectiva, o seu sentido lúdico e pedagógico, a vontade de experimentar e confrontar ideias que atraiu Ernesto de Sousa ao C.A.P.." Paula Pinto, in João Dixo. Exposição Cancelada, Porto: Afrontamento, pp.100-107.