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ENFERMEMENT/ RUPTURE, em revista L´HUMIDITÉ, Nº24, Printemps 1977, pp.40-41 (pp.602-603, Éditions Al Dante, 2012). La création féminine

“Nous essayons de mettre en place un groupe de travail qui soit un lieu de rencontres et de réflexions, un lieu où chacune puisse parler de sa propre pratique. Nous pensons qu'il est nécessaire de maintenir une structure aussi ouverte que possible sans défendre, ou proposer, une forme de pratique picturale ou plastique spécifique. Cela ne veut pas dire que nous soyons prêtes a soutenir n'importe quelle forme de pratique picturale ou plastique. Il ne s'agit pas de verser dans un éclectisme qui proposerait simplement la reproduction de la société telle qu'elle est. Aussi ne sommes-nous pas intéressées, pour le moment, par ce qui se présente comme une simple copie, une imitation de ce que produit la société : fétiches en tout genre. Par contre nous sommes décidées à soutenir tout effort pour transformer le fond à partir de quoi travaille la peinture, la photographie ou le cinéma. C'est là que se pose la question du surréalisme. Il nous semble en effet que le surréalisme définit souvent le seuil de l'imaginaire à partir de quoi beaucoup de femmes travaillent. Cela nous semble un retour en arrière dangereux s'il n'est pas accompagné d'un mouvement de critique ou de rupture. Le surréalisme traite la femme en objet et même quand des femmes adoptent un point de vue de sujet dans le cadre du surréalisme c'est à partir de ce point de vue aliéné d'objet qu'elles parlent d´elles-mêmes. Nous partons de cette constatation que beaucoup de groupes de lutte en France, qu'il s'agisse d'hommes ou de femmes, ont échoué parce qu'ils partaient d'un point de vue trop rigide, trop dogmatique. Avant de pouvoir parler d´une spécificité des pratiques féminines il nous semble qu´il faut construire um lieu où les différences des femmes entre elles puissent se parler, se construire. Une des tendances du mouvement féministe, compréhensible comme moment de la lute, est de vouloir parler de la femme, en se référant à une unité psychique, voire biologique, du sexe féminin par opposition au sexe masculine. Cet appel à une unité organique, biologique – la femme comme mère, déesse, déesse-mère, etc. – nous semble avoir um référent précis: le fascisme. Exaltation de la beauté du corps féminin – le corps comme nature – et mise sous clef, occultation, des conditions de vie concrète, réelles, des encrages dans la vie sociale, l´histoire, le symbolique. Comme femmes, nous sommes opprimées politiquement, socialement, économiquement. Voilà l´unité de notre destin. Mais la différence, les différences, ne se fondent pas au niveau biologique mais au niveau du signifiant; non au niveaux du corps, mais de ce qui en est dit, de la parole. Or, c´est um fait que les femmes on le plus grand mal à penser et la différence sexuelle et les différences entre elles. Beaucoup de groupes de femmes ont comme idéologie um idéal de la fusion, accompagné d´um refus des pratiques individuelles. Cette aspiration à l´unité, fondée sur l´idée d´um corps pur, non aliéné par les vicissitudes de l´histoire, nous semble à nouveaux très fascisante. Le respect de la différence, des différences comme telles, est le fondement même de la démocratie. Nos pratiques comme peintres, photographes, cinéastes, sont donc divergentes. Elles ne reflètent pas une ligne théorique commune. Leur point commun, c´est de parler de la violence qui nous est faite, des barreaux et des cages dans lesquelles nous avons été enfermées. La toile, le cadre, le châssis, les lignes horizontales et verticales, la surface, la chambre noire où fonctionne l´appareil cinématographique ou photographique, que sont-ils sinon des cages, des prisons, héritées de l´ère bourgeoise et qu´il s´agit de transformer, de libérer des conditions historiques dans lesquelles ils sont apparus et auxquels ils restent liés. Peindre ou combattre, telle semblait être l´alternative qui se posait em 1968. Peindre, écrire, produire um travail théorique semblait aller contre le sens de l´histoire. Aussi certaines d’entre nous ont-elles renoncé à toute pratique picturale pendant ces années, pensant qu´elles devaient investir ailleurs leur temps et leur énergie. Oser peindre, dessiner, photographier, filmer en 1977. Est-ce simplement l´aveu d´un échec ? Nous ne le pensons pas. Pour sortir de la routine il faut que chacune apprenne à retrouver le fil de son désir, découvre son propre mode de jouissance, en face l´apprentissage. Ce n´est qu´à ce prix là que nous éviterons de retomber dans les pièges du sensu nique. Aussi pour nous le clivage photographique/ peinture, peinture/vidéo, art/ art sociologique, ne peut exister. C´est là typiquement um cloisonnement de type Bourgeois (chacune à ça place et tout ira pour le mieux). Non pas qu´il faille gommer, effacer les différences. Il faut au contraire apprendre à les construire, à les élaborer.” Tradução portuguesa: “Estamos a tentar criar um grupo de trabalho que seja um local de encontro e de reflexão, um local onde cada uma possa falar sobre a sua prática. Acreditamos que é necessário manter uma estrutura o mais aberta possível sem defender, ou propor, uma forma específica de prática pictórica ou plástica. Isto não significa que estejamos prontas para apoiar qualquer forma de prática pictórica ou plástica. Não se trata de cair num ecletismo que simplesmente apropriaria a reprodução da sociedade tal como ela é. Por isso, não nos interessa, por enquanto, aquilo que se apresenta como uma simples cópia, uma imitação daquilo que a sociedade produz: fetiches de todos os tipos. Por outro lado, estamos determinadas a apoiar qualquer esforço para transformar o contexto a partir do qual funcionam a pintura, a fotografia ou o cinema. É aqui que surge a questão do surrealismo. Parece-nos que o surrealismo define, muitas vezes, o limiar da imaginação a partir do qual muitas mulheres trabalham. Isto parece-nos um perigoso retrocesso se não for acompanhado de um movimento de crítica ou de ruptura. O surrealismo trata as mulheres como objetos e mesmo quando as mulheres adotam um ponto de vista subjetivo dentro da estrutura do surrealismo, é a partir deste ponto de vista do objeto alienado que falam sobre si. Partimos desta constatação de que muitos grupos de luta em França, quer homens, quer mulheres, falharam porque partiram de um ponto de vista demasiado rígido, demasiado dogmático. Antes de podermos falar de uma especificidade das práticas femininas, parece-nos que devemos construir um lugar onde as diferenças entre as mulheres possam ser faladas e construídas. Uma das tendências do movimento feminista, compreensível como momento de luta, é querer falar da mulher, referindo-se a uma unidade psíquica, até biológica, do sexo feminino por oposição ao sexo masculino. Este apelo a uma unidade orgânica e biológica – mulher como mãe, deusa, deusa-mãe, etc. – parece-nos ter um referente preciso: o fascismo. Exaltação da beleza do corpo feminino – o corpo como natureza – e fechado a sete chaves, ocultação, de condições de vida concretas, reais, âncoras na vida social, na história, no simbólico. Como mulheres, somos oprimidas política, social e economicamente. Esta é a unidade do nosso destino. Mas a diferença, as diferenças, não se fundem ao nível biológico, mas ao nível do significante; não ao nível do corpo, mas daquilo que dele se diz, da palavra. Contudo, é um facto que as mulheres têm maior dificuldade em pensar sobre a diferença sexual e as diferenças entre elas. Muitos grupos de mulheres têm uma ideologia ideal de fusão, acompanhada por uma recusa das práticas individuais. Esta aspiração à unidade, baseada na ideia de um corpo puro, não alienado pelas vicissitudes da história, parece-nos mais uma vez muito fascizante. O respeito pela diferença, pelas diferenças enquanto tais, é o próprio fundamento da democracia. As nossas práticas enquanto pintoras, fotógrafas e cineastas são, por isso, divergentes. Não refletem uma linha teórica comum. O seu ponto comum é falar da violência cometida contra nós, das grades e das jaulas em que estivemos trancados. A tela, a moldura, o “chassis”, as linhas horizontais e verticais, a superfície, a câmara escura onde funciona o aparelho cinematográfico ou fotográfico, o que são senão jaulas, prisões, herdadas da era burguesa e o que é necessário transformar, de liberar das condições históricas em que surgiram e às quais se mantêm ligados. Pintar ou lutar, esta parecia ser a alternativa que se apresentava em 1968. Pintar, escrever, produzir trabalhos teóricos pareciam ir contra o sentido da história. Assim, alguns de nós desistiram de toda a prática pictórica durante estes anos, pensando que teriam de investir o seu tempo e energia noutro lugar. Atreva-se a pintar, desenhar, fotografar, filmar em 1977. Isto é simplesmente uma admissão de fracasso? Nós não pensamos assim. Para fugir à rotina, cada pessoa deve aprender a encontrar o fio do seu desejo, descobrir a sua própria forma de desfrutar, perante a aprendizagem. Só a este preço evitaremos cair nas armadilhas da sensualidade. Também para nós a divisão fotografia/pintura, pintura/vídeo, arte/arte sociológica não pode existir. Este é tipicamente um tipo de particionamento burguês (cada um tem o seu próprio lugar e tudo ficará bem). Não que devamos apagar, apagar as diferenças. Pelo contrário, devemos aprender a construí-las, a desenvolvê-las”.

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Francês
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revista L´HUMIDITÉ, Nº24, Printemps 1977, pp.21-22 (pp.584-585, Éditions Al Dante, 2012). L'HUMIDITE N°24: ENCORE (printemps 1977) La création féminine Administration / éditeur : René Baudouin Comité de rédaction: Danièle Boone, Thierry Agullo, Christine Le Pivert, Chantal Petithory, Sommaire: Raymonde Arcier, Jean-François Bory, Danièle Boone, Bernadette Costes, Niki de Saint Phalle, Christine Davenne, Colette Deblé, Mary Beth Edelson, Jeanne Folly, Ruth Francken, Hannah Höch, Natalia L.L., Louise Labé, Giovanni Lista, Erika Magdalinski, Nicola, Gilles Pudlowsky, Raquel, Pierre Restany, Sapho, Guy Schranen, Irene Schwartz, Geneviève Simon, Laure Slausky, Jacques Soulillou, Monique Tirouflet, Marie-Claude Volfin