Catálogo da Exposição Anual do Círculo de Artes Plásticas, inauguração da Galeria C.A.P., Julho 1970.
"Encontrando-se no centro da agitação estudantil que deu origem à Crise Académica de 1969, o Círculo de Artes Plásticas transformou-se num palco de liberalização cultural. Embora essa atividade não esteja documentada, as apetências profissionais desenvolvidas no C.A.P. pela sua comunidade seriam utilizadas durante a Crise Estudantil de 1969, em atividades como, por exemplo, o desenho e a produção efetiva de panfletos de contestação estudantil. Outras manifestações internas ao organismo teriam consequências estéticas imprevisíveis: no início de 1970, uma série de professores e alunos – entre os quais Teresa Cunha, João Dixo, Albuquerque Mendes, Túlia Saldanha e Ângelo de Sousa – pintaram a “Galeria Preta” onde os alunos, mas também uma nova geração de artistas, passariam a expor de uma forma mais independente. A criação da galeria em sede própria permitir-lhes-ia ultrapassar o formato expositivo académico e a disponibilização do calendário dos museus e galerias, mas a dramaticidade do gesto – a pintura da galeria de preto –anunciava o radicalismo das intervenções que se seguiram. Na exposição inaugural da Galeria Preta participam os artistas Albuquerque Mendes, Berta Cabral, Fernanda Pires, Gama Mendes, João Chichorro, Fernando Pinto Coelho, Teresa Cunha, Segorbe Luís e Túlia Saldanha." Paula Pinto, in João Dixo. Exposição Cancelada, Vila Real: Museu da Vila Velha/ Porto: Edições Afrontamento, 2019.
Criador
Data
Outro Contribuinte
J. Plácido Santos, "A exposição Anual do Círculo de Artes Plásticas, in Diário de Coimbra, 1970:
"Iniciativa é factor de criatividade, mormente no plano artístico. Eis por que entre nós, pequena família coimbrã, pobre de produções que se situem no domínio de autêntica arte, tanto falha a iniciativa de movimentos válidos.
Vem este pensamento a propósito da inauguração da Galeria do C.A.P.. Meia dúia de moças e moços artistas, conscientes da força espantosa da dialéctica de nossos dias, plenos de força e pessoal expressão plástica, demonstram, através de alguns óleos, esculturas e peças metálicas, verdadeira, decidida e prometedora vocação. Sem barroquismos pretenciosos de técnica, com sinceridade flagrante e valorizadora, conseguem estes jovens poetas-pintores e poetisas-pintoras momentos altos de interesse morfocromático a significar a existência evidente de sérias preocupações e válidas mensagens não aparentadas, quanto a mim, com a mitologia niilista que ultrapassamos conscientemente. Albuquerque Mendes, Berta Cabral, Fernanda Pires, Gama Mendes, João Chichorro, Pinto coelho, Teresa Cunha, Segorbe Luís e Túlia Saldanha, nomes que figuram no catálogo de original arranjo gráfico, pertencem a personalidades, na sua maioria, que crêem na redenção poética do eu, através da arte e vivem generosa e devotamente os seus problemas de sensibilidade, como o atestam entre outros, "Cidade, "ExperiÊncia" e "De Abril" de Túlia Saldanha.
(...)."