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"Bárbara Fonte. Neste corpo não há poesia", exposição patente no CAAA_ Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (Guimarães), entre 20.06 e 08.08.2020.

"(...) As imagens de Bárbara Fonte são situadas: têm uma motivação, uma história e um contexto próprios, a sua substância é outra, mas, tal como as imagens surrealistas, manipulam o reconhecimento da imagem, a estranheza dos significados e o uso de artifícios. A nudez do corpo feminino é igualmente obsessiva, mas uma nudez outra, conduzida pela artista e em relação ao próprio corpo. É assumida uma plena intimidade entre o corpo e a câmara; tudo é criado para formar a imagem, mas não se trata de uma fotografia passiva. Pelo contrário, ideia, encenação e representação são inventadas para a câmara, a maior parte das vezes programada para capturar as imagens de forma automática. Quando se autorretrata, Bárbara exerce pouco controle sobre a imagem, e isso permite-lhe entregar-se sem reservas, trabalhar sem observadores e admitir o erro. Adivinham-se as construções cenográficas, sempre muito elementares e não se esconde a elementaridade das simulações, nem o amadorismo técnico. Não existem fotomontagens. O seu trabalho é essencialmente performativo e experimental, realizado a partir de ideias anotadas e sem edição. Bárbara Fonte entrega-se à performance, sem ensaio prévio nem repetição, numa entrega total, apenas testemunhada pela máquina fotográfica ou pela câmara de vídeo. Cheia de palavras por dizer, não tem medo do ridículo. Viveu presa e já não tem espaço para a mentira nem para a doce imaginação. A voracidade do seu trabalho não se coaduna com o aperfeiçoamento e depende da surpresa da imagem devolvida, que serve para desencadear a próxima acção. Tal como acontece com o reflexo frente a um espelho, a imagem produzida não existe sem a presença física do observador, mas nem por isso esta deixa de ser mágica. Entre o ser que projetamos e a imagem que nos é devolvida no reflexo do espelho existe um fosso que se apresenta como a nossa condição de existência. Quem é aquele que sou eu? Estas imagens são os mediadores deste encontro de um ser consigo próprio. Um trabalho tão solitário quanto vital, mesmo que esta urgência não seja imediata para o público. É a fragilidade dos gestos que se perdem, irrepetíveis, que inventa diante de si, através da sua pulsão criativa, um lugar crítico sem hegemonia, hierarquia ou poder, um corpo assombrado por quase tudo menos poesia." Paula Pinto, Excerto de texto "Bárbara Fonte. Neste corpo não há poesia", Folha de sala da exposição no CAAA_ Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (Guimarães), Junho de 2020.

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Fotografias/ vistas de exposição: Paula Pinto